Nem de longe Lula chegou ao poder em 2023 com a mesma força política que tinha em 2003. Os escândalos e o desastre do governo da aliada Dilma Rousseff desgastaram sua imagem pública e fizeram com que ele voltasse ao Planalto com menos de 2% de diferença para Jair Bolsonaro. Talvez o adversário mais duro que já enfrentou. Afinal, Bolsonaro jamais se constrangeu, como dizia a ex-presidente da República, de “fazer o diabo quando é hora de eleição”.
A mais recente pesquisa de opinião sobre os seis primeiros meses do governo Lula, divulgada na semana passada, mostrou que 53% aprovam a maneira como o petista tem gerido o país. Os números mostram uma queda na aprovação. Mas, na leitura do cientista político Antonio Lavareda, o presidente da República ainda está em uma situação “bastante confortável”. A aprovação é 14 pontos percentuais acima do 39% dos votos totais obtidos no segundo turno da eleição, segundo observa o especialista.
Se Lula ainda não tem (nem sabemos se terá) uma grande aprovação no país, como um dia teve, na Bahia, o petista permanece como um deus. É verdade que não temos sondagens de opinião para aferir tal afirmação, mas é possível ver a olho nu que não há mudança no quadro político atual na comparação com o ano passado, quando Lula obteve 72% dos votos válidos no estado.
Aliás, o levantamento do Instituto Paraná Pesquisa, divulgado na semana passada, corrobora o argumento de que a popularidade do chefe do Palácio do Planalto permanece a mesma. Segundo a consulta, Lula tem 67,4% de aprovação na capital baiana, que é o principal colégio eleitoral da Bahia. Aí reside a questão: o que deve fazer a oposição baiana em relação ao petista? Bater para tentar arruinar a imagem de deus que possui entre os baianos? Ou ter uma relação cordial?
Quando esteve no Metropod, o podcast de política da Rádio Metropole, há três semanas, o ex-ministro João Roma respondeu à pergunta. Para ele, é preciso partir para cima de Lula. “Talvez a principal falha da direita aqui na Bahia, que já vai para cinco eleições de governo sendo derrotado pelo PT, é justamente o não enfrentamento ao PT. Ou enfrenta Lula ou não adianta ficar conversando com a contraparte aqui no estado da Bahia. Esse fenômeno eleitoral [de verticalização] está claro. Essa vinculação do voto”, afirmou.
No mesmo podcast, o ex-deputado federal oposicionista Jutahy Magalhães Júnior disse que seu grupo político não vencerá na Bahia enquanto Lula permanecer como divindade. “Ninguém dá a menor pelota para avaliação do governo estadual, a eleição é nacional. Enquanto ele [Lula] tiver 72% de votos na Bahia, não ganha”, ressaltou.
O certo é que, até aqui, as atuais três principais lideranças políticas oposicionistas na Bahia parecem descartar qualquer possibilidade de enfrentamento ao presidente da República. Nos círculos da política, inclusive, domina a conversa de que o prefeito de Salvador, Bruno Reis, já avisou que não quer desagradar, em hipótese nenhuma, o eleitor lulista. O ex-prefeito ACM Neto, embora faça ataques frequentes ao governador Jerônimo Rodrigues, tem poupado Lula de críticas. Não se manifestou nem quando foi chamado de “grampinho” pelo petista, durante evento na capital baiana.
ACM Neto sabe o efeito negativo de bater em Lula. Por longos anos, e ainda hoje, sofre por ter dito, no plenário da Câmara dos Deputados, que daria uma “surra” no chefe do Planalto. No MetroPod, atribuiu sua derrota ao governo da Bahia no ano passado a Lula, tese reforçada por seus correligionários e especialistas. Os últimos pontuam, entretanto, que a aprovação da administração petista também foi um elemento relevante para a derrota do ex-prefeito.
O terceiro líder da minoria na Bahia também não indica estar disposto a ir para o embate contra Lula. Pelo contrário, o deputado federal Elmar Nascimento, que comanda a bancada do União Brasil na Câmara, disse, na semana passada, em entrevista à Rádio Metropole, que quer ajudar o presidente da República mesmo que “o preço seja o PT ficar no poder muito tempo”. Elmar admitiu, na mesma emissora, que quer suceder Arthur Lira (PP) na presidência da Câmara dos Deputados. E ele sabe que, para concretizar o seu desejo, Lula não pode ser uma pedra no seu caminho.